Precisamos falar do Idelfonso Cerdá

A primeira vez que vi uma imagem aérea de Barcelona pensei que fosse alguma obra de ficção futurista, mas pesquisei melhor e para o meu espanto não só era real, como havia sido criado no ano de 1854 pelo engenheiro Idelfonso Cerdá. Portanto, precisamos falar um pouco sobre a história dessa figura icônica da engenharia.Idelfonso Cerdá (1815-1876) possuía formação em Engenharia com aprofundamento em sistema viário. Em 1854, propõe o plano para expansão da cidade de Barcelona, na Espanha onde defende a idéia de projetar ao máximo os limites da cidade. A concepção morfológica de seu plano é baseada na reforma de Paris, com avenidas largas.
Cerdá escreve o primeiro Tratado sobre Urbanização onde faz uma análise urbana da cidade. Neste Tratado, discorre sobre temas como a capacidade das edificações, o funcionamento viário, a circulação e a clareza do traçado.
 Para o concurso do Plano de Barcelona, realiza estudo topográfico da área considerada para a expansão, idealiza esquema de urbanização com vegetação, leva em consideração o clima da região, dando início a esse tipo de estudo nos projetos urbanísticos. Na sua forma de pensar o urbanismo, preocupa-se em como pensar a cidade e no que pensar primeiro destacando conceitos fundamentais como: homogeneidade, coerência espacial, circulação, convívio social (enfatizando a preocupação com quem vai habitar a cidade) (diferente da reforma de Paris, onde a questão principal é a estética). Além desses aspectos, Cerdá realiza estudo de qualidade ambiental e adota traçado retilíneo.
 O Plano para Barcelona foi colocado em prática e, essa é a primeira vez que aparece o termo ‘urbanização’.  Cerdá cria uma metodologia processual enfatizando aspectos relacionados à questão da coordenação dos aspectos espaciais e físicos, funcionalidade, destacando relações sociológicas, econômicas e administrativas da cidade; lembrando que vários fatores influenciam a cidade e isso define quais os que serviços deverão ser fornecidos. A partir desses aspectos, fez uma relação dos edifícios com o número de usuários (exemplo: hospital para tantas pessoas que moram perto do edifício). Esse aspecto de seu plano pode ser observado no Plano Piloto de Brasília, projetado por Lucio Costa. Nele existe a figura da Unidade de Vizinhança que configura exatamente este aspecto do Plano de Cerdá. Em relação à tipologia a ser adotada, Cerdá defende que deveria ter uma única fisionomia, com ocupação periférica do lote e o miolo sendo utilizado para jardins. Os edifícios deveriam ter sempre o mesmo gabarito de altura e chanfrados nas quinas.
A proposta multiplica a cidade em quase seis vezes. Cerdá adota traçado quadriculado, cria no centro uma grande diagonal que corta todo o tecido da cidade com uma avenida que tem quase seis vezes o tamanho do antigo núcleo. Não se preocupa em criar um centro administrativo, pois para ele, o território tem que ser homogêneo e todos os locais devem possuir o mesmo valor. Não concentra prédios públicos e administrativos, espalha por toda a cidade os edifícios destinados a essas funções, valorizando por igual os setores e bairros. “Congela” a cidade medieval e só prolonga a avenida ligando-a aos bairros novos projetados, descartando assim, qualquer tipo de demolição ou desapropriação do antigo núcleo, enfatizando a preservação do lugar.
Cria áreas de parques e permeia todo o plano por praças e parques. Cria uma grelha ortogonal definida em estruturas rígidas que se desenvolvem a partir de módulos quadrados (grelha 9×9 –com várias formas de ocupação), cria hierarquia de vias relacionando-as diretamente à tipologia habitacional, com limite de ocupação da quadrícula.
A circulação representa um meio fundamental de facilitar o contato e a relação entre pessoas e o quarteirão, produz uma ruptura formal com a ocupação periférica das quadras. A ocupação da superfície é definida a partir da habitação, que deve ocupar no máximo 2/3 da área do quarteirão, o restante do terreno deve ser ocupado apenas por jardins. Define duas formas de ocupação periférica do lote: em forma de L ou de U.
Entre 1876 e 1886 ocorre o desenvolvimento da expansão da cidade. A especulação imobiliária faz pressão e a quadrícula definida por Cerdá, passa a ser ocupada totalmente fugindo do plano inicial e descartando as áreas verdes internas, destinadas aos jardins.

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